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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Mesmo piorando o agro salva a balança comercial de colapso total em 2014

Por: Marcos Fava Neves e Rafael Bordonal Kalaki


O ano de 2014 é realmente para ser apagado na nossa história. Os indicadores de nossa economia se deterioraram fortemente, o valor da nossa moeda, retorno da inflação, o mar de lama da corrupção, grandes decepções no esporte, e o ano onde nossa população foi enganada a aceitar mais 4 anos de um Governo que entregou muito aquém das possibilidades.

Neste quadro de derrotas da sociedade brasileira, o agro de 2014 voltou a nos salvar de um colapso, pois o desempenho das exportações foi extremamente positivo, trazendo US$ 96,8 bilhões ao Brasil, mas o agro também perdeu: este valor foi 3,2% menor que o de 2013. O saldo foi de US$ 80,1 bilhões na balança comercial do agro, um valor também 3,3% menor que 2013.

Corroborando a difícil situação da economia brasileira, os demais produtos brasileiros fora do agro apresentaram queda de 9,7% nas exportações de 2014 (US$ 142,1 bi em 2013, para US$ 128,4 bi em 2014) e com esta queda, a participação do agro nas exportações brasileiras cresceu quase dois pontos, atingindo incríveis 43% do total.

Como a balança comercial brasileira, após seguidos anos de superávit, fechou 2014 negativa em quase US$ 4 bilhões, mais um pífio resultado entregue por esta gestão, se não fosse o agro, o Brasil teria um déficit de US$ 84 bi, estourando a inflação, acabando com o real e espalhando miséria. Mais um em que o agro salvou a economia brasileira, permitindo crescimento sustentável e distribuição de renda, programas sociais, inclusão, apesar de continuar sendo demonizado por parte dos ditos “movimentos sociais”, que preferem perpetuar o atraso e a miséria.

Os 10 produtos que mais contribuíram no aumento das exportações em relação a 2013 foram respectivamente: café verde (aumentou US$ 1,46 bilhão em relação a 2013), soja em grãos (US$ 465,1 milhões), carne bovina in natura (US$ 435,6 mi), couros/peles bovinos preparados (US$ 250,7 mi), algodão não cardado nem penteado (US$ 250,1 mi), carne suína in natura (US$ 219,2 mi), farelo de soja (US$ 213,4 mi), leite em pó (US$ 205,3 mi), outros couros/peles bovinos curtidos (US$ 205,2 mi) e celulose (US$ 112,5 mi). Estes 10 ganhadores foram responsáveis por um aumento de aproximadamente US$ 3,8 bilhões nas exportações do agro de 2014.

Os 10 principais produtos que diminuíram as exportações em relação a 2013 foram: milho (queda de US$ 2,37 bilhões), açúcar de cana em bruto (US$ 1,71 bi), álcool etílico (US$ 970,9 milhões), fumo não manufaturado (US$ 740,1 mi), açúcar refinado (US$ 669,6 mi), suco de laranja (US$ 329,3 mi), trigo (US$ 247,3 mi), óleo de soja em bruto (US$ 216,4 mi), carne de frango in natura (US$ 110,9 mi) e café solúvel (US$ 86,4 mi). Juntos estes produtos contribuíram para a redução nas exportações comparadas com 2013 na ordem de US$ 7,46 bilhões.

Os 10 principais países que mais cresceram suas importações do Brasil em 2014 foram: Rússia (US$ 899,1 milhões a mais que 2013), Alemanha (US$ 828,6 milhões), Vietnã (US$ 427,4 mi), Venezuela (US$ 413,3 mi), Índia (US$ 358,0 mi), Turquia (US$ 262,7 mi), Hong Kong (US$ 243,0 mi), Tailândia (US$ 212,8 mi), Itália (US$ 197,3 mi) e Indonésia (US$ 139,8 mi). Juntos, foram responsáveis pelo aumento de US$ 3,9 bilhões nas exportações. Por este números se percebe como o embargo russo às importações vindas dos EUA e Europa nos beneficiou.

O Brasil também perdeu vendas em alguns mercados, com destaque para Países Baixos (US$ 911,4 milhões a menos que 2013), China (US$ 815,9 mi), Coréia do Sul (US$ 717,9 mi), Japão (US$ 629,0 mi), Arábia Saudita (US$ 403,4 mi), Taiwan (US$ 372,7 mi), Marrocos (US$ 269,1 mi), África do Sul (US$ 240,6 mi), Ucrânia (US$ 232,8) e Colômbia (US$ 224,5 mi).

O que esperar para 2015? Temos o estímulo do clima e do câmbio, que parecem melhores, e os plantios foram bons. O petróleo mais barato também estimula o consumo das famílias no mundo, podendo refletir nos mercados de alimentos e até recuperação de preços das principais commodities puxados pelo consumo. Com estes impactos e quem sabe uma volta do crescimento da China nas importações do agro brasileiro, possamos finalmente em 2015 passar dos US$ 100 bilhões em exportações. Quem sabe um novo Governo tenha estímulo e possa despertar e contribuir na redução do custo Brasil, contribuindo com as exportações e a consequente geração e distribuição de renda.

Até o agro piorou neste tenebroso 2014, mas mesmo assim nossos produtores merecem amplo agradecimento da sociedade por nos salvarem de uma situação que seria muito pior que a observada sem a sua existência.


Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA-USP, Campus de Ribeirão Preto (favaneves@gmail.com)

Rafael Bordonal Kalaki é pesquisador da Markestrat (rkalaki@markestrat.org)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Crise hídrica estimula investimentos em energia limpa

Fundos de private equity já estão de olho em empresas brasileiras de fontes renováveis de energia


Com o colapso na captação de água e riscos no abastecimento e geração de energia elétrica, associado à crescente pressão contra as emissões de gases poluentes provocados pelo uso de combustíveis como petróleo e gás, a necessidade de o país voltar os olhos para as energias alternativas, como a solar e a eólica, é cada vez mais premente.

As empresas que compõem a cadeia de energia eólica e solar já sentiram o bom momento para expandir seus negócios e até os fundos de investimento se voltam para a expectativa de lucratividade do setor nos próximos anos.

“Parece que até agora padecemos de um imobilismo no planejamento energético. Ficamos acomodados, contando basicamente com as hidrelétricas. Mas o problema do baixo nível dos reservatórios de água mostra a urgência de se investir em fontes de energias alternativas, como a eólica e a solar. Por isso, empresas e investidores já estão de olho nesse futuro promissor”, destaca Rodrigo Bertozzi, CEO da B2L Investimentos S/A, especializada na mediação de negócios entre fundos e empresas.

O interesse em energias eólica e solar vem aumentando e deve ser ainda maior a partir de agora diante do acordo firmado recentemente entre os países – inclusive o Brasil – na Conferência do Clima (COP 20), no Peru, para reduzir as emissões de poluentes que causam o efeito estufa e o aumento das temperaturas no mundo.

“O acordo firmado em Lima e que deverá ser detalhado ainda este ano na COP 21, em Paris, sem dúvida vai ajudar no crescimento do uso de energia limpa no Brasil, o que vai beneficiar investimentos no setor, como já começamos a observar. Há boas perspectivas, diante da demanda crescente. Além disso, projetos de energia renovável têm um processo de implantação mais rápido, com a obtenção de licenças ambientais mais simples do que as térmicas e hidrelétricas”, informa a advogada Danielle Limiro, sócia da B2L, especialista em energia.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap), mais de 21% dos gestores estão com foco no setor de energia limpa; e o interesse já chegou também entre os fundos de venture capital.

“Investir em energia eólica e solar é cada vez mais promissor e, além disso, tem forte apelo social. É importante lembrar ainda que o avanço da tecnologia já possibilita ao setor a geração de uma energia limpa com muita eficiência”, afirma Limiro.

Hoje a energia gerada pelas hidrelétricas ainda corresponde a 80% da matriz energética brasileira, mas o Brasil já investe em fontes alternativas. A energia eólica é a que mais cresce atualmente, especialmente em estados do Nordeste. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), em seis anos a capacidade instalada deve aumentar quase 300%. O setor eólico deve passar dos atuais 3% da matriz energética brasileira para 8% em 2018.

O mercado de energia solar também já ganha visibilidade. O que mais se tem ouvido entre investidores, geradoras de energia e fabricantes de equipamentos é que “chegou a hora” da energia solar no Brasil. Em agosto passado, entrou em operação, em Tubarão (SC), a maior usina solar construída até agora no país, com capacidade para abastecer 2,5 mil residências. E o primeiro leilão de energia solar organizado em 2014 pelo Governo contratou 31 novos projetos, que devem gerar energia suficiente para abastecer mais de 900 mil residências.

Diante desse quadro, os casos de empresas de sucesso que estão surgindo no setor faz crescer a demanda por fundos com esse perfil, com especial atenção à cadeia de fornecimento de equipamentos de energia eólica.

“A indústria de private equity deve ter presença cada vez maior como fonte de investimento de capital para fomentar o crescimento das empresas de energias alternativas”, conclui o CEO da B2L.