Foi um susto para as famílias de Vitória o fato de doze bebês terem passado mal, após a realização do teste do olhinho, no Espírito Santo, no início deste ano. As crianças foram encaminhadas para hospitais da Grande Vitória, apresentando os mesmos sintomas: corpo mole, falta de ar e queda na frequência cardíaca, após a realização do exame. Todos receberam atendimento médico apropriado e nenhum dos bebês ficou com seqüelas. Segundo os responsáveis pela direção do Hospital das Clínicas, o colírio usado para dilatar a pupila dos bebês apresentou problemas e os exames foram suspensos até que a situação se normalize.
“O episódio, apesar de assustar alguns, precisa ser esclarecido devidamente, pois o teste do olhinho é um exame essencial, que pode resguardar muitas crianças da cegueira ou do desenvolvimento de doenças oculares como a catarata, o glaucoma, o retinoblastoma e a ambliopia”, afirma o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares, IMO.
Como é feito o teste
O teste do olhinho é um exame indolor e rápido, demora menos de cinco minutos para ser realizado. O único equipamento necessário é um oftalmoscópio direto. Mais do que o reflexo vermelho, é preciso que o profissional - neonatologista, pediatra ou oftalmologista - examine o olho da criança e tudo o que o envolve. “O ‘teste do reflexo vermelho’ recebe esse nome porque quando o oftalmologista projeta a luz do oftalmoscópio no olho de um bebê sadio, um reflexo vermelho ou amarelo-avermelhado pode ser visto, proveniente da retina”, explica a oftalmopediatra do IMO, Maria José Carrari.
O reflexo avermelhado ocorre porque os meios oculares - córnea, cristalino, vítreo - encontram-se transparentes. A cor se deve à própria cor da retina. “A ausência do reflexo vermelho ou a presença de reflexos diferentes em um ou nos dois olhos podem significar a presença de alguma alteração congênita ou neonatal. Nestes casos, a criança deve ser encaminhada imediatamente ao oftalmologista”, explica Maria Carrari.
Após o nascimento, o teste também pode ser realizado nas consultas rotineiras em crianças maiores, de qualquer idade, pois muitas doenças passíveis de diagnóstico pelo método podem aparecer mais tardiamente.
O que pode ser diagnosticado por meio do teste do olhinho:
• Catarata congênita - estima-se que atualmente 0,4% dos recém-nascidos sejam portadores da moléstia. A doença pode ser detectada pelo teste do olhinho, quando este apresenta um reflexo vermelho que não é visto de maneira clara ou uniforme. “O diagnóstico precoce desse tipo de catarata é de extrema importância para o bom desenvolvimento da criança, pois quanto mais precoce for o diagnóstico e o subseqüente procedimento cirúrgico, menor será o dano à acuidade visual provocado pela doença”, afirma Maria José Carrari;
• Glaucoma congênito - é outra doença que pode ser diagnosticada por meio do teste do olhinho. Sua incidência é de 1 em cada 10 mil recém-nascidos vivos, aproximadamente. “O glaucoma congênito é resultado do aumento da pressão intra-ocular que provoca rupturas no endotélio corneano, levando ao edema de córnea. O edema de córnea impede a entrada normal de luz para dentro do olho”, explica Carrari;
• Retinoblastoma - quanto aos tumores malignos intra-oculares, o retinoblastoma é o mais freqüente na infância e também pode ser diagnosticado precocemente por meio do teste do olhinho. Se não for tratado com urgência pode levar a criança ao óbito. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, no Brasil, 60% dos retinoblastomas são diagnosticados tardiamente, quando já não é possível salvar o olho e, às vezes, nem a vida da criança;
• Retinopatia na prematuridade - é uma condição que afeta os prematuros, os bebês considerados de risco (menos de 1500 gramas ou 32 semanas de gestação). Trata-se de um processo fibroso patológico que compromete a retina dos dois olhos da criança prematura. “Normalmente, a doença está associada ao uso prolongado de oxigênio e baixo peso ao nascimento. Se não for detectada no início, pode levar ao deslocamento da retina e causar cegueira”, explica a oftalmopediatra.
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